Eu sei, a expressão usada no título popularmente está relacionada a situações injustas. O que, convenhamos, não é o caso. A derrota do Flamengo por 2 a 0 para o Fluminense, a primeira sob o comando de Filipe Luís, foi incontestável na noite da última quinta-feira no Maracanã. Mas o jogo de palavras foi uma licença poética para analisar o contexto.
Um peso é o de perder um clássico, resultado que interrompe a sequência de três vitórias seguidas e praticamente sepulta as já remotas chances de título brasileiro. O outro peso é um pouco mais leve: o time desfigurado, sem o seu meio de campo inteiro titular, atenua pela falta de entrosamento. E não vai ser essa equipe para a decisão contra o Corinthians.
Já as "duas medidas" preocupam para o jogo de domingo, valendo vaga na final da Copa do Brasil. Uma é o desempenho individual de titulares, como por exemplo Gabigol e Bruno Henrique, que nas três partidas passaram em branco. A outra é a inversão de confiança: se de um lado o Flamengo freou a empolgação, do outro o Corinthians chegará cheio de moral depois da goleada por 5 a 2 sobre o Athletico-PR.
Mas foquemos no Fla-Flu:
Como já mencionado, Filipe Luís não tinha nenhum dos seus quatro homens do seu meio de campo considerado titular: Pulgar, Gerson, De la Cruz e Arrascaeta (único que ficou no banco), todos em função do desgaste de jogar 48 horas antes por suas seleções na Data Fifa. A solução encontrada por Filipe Luís foi voltar Léo Ortiz como volante, ao lado de Allan, Alcaraz e Matheus Gonçalves.
E no primeiro tempo funcionou. Principalmente com o ensaboado Matheus Gonçalves, que se movimentou bem, abriu espaços e criou várias jogadas. O Flamengo terminou os primeiros 45 minutos com 52% de posse de bola contra 48% do Fluminense, e o dobro de finalizações do que o rival: 12 a 6, com direito a um chute de longe de Alcaraz que bateu na trave, em Fábio (que fez golpe de vista) e quase entrou.
Mas chances de gol foram só três: o chute de Bruno Henrique defendido por Fábio aos 10 minutos, após tabelar com Gabigol na área; a finalização de Léo Ortiz que Thiago Santos bloqueou na direção do gol aos 31; e oito minutos depois a "cabeçada" de ombro de Alcaraz, que subiu sozinho após cruzamento de Léo Pereira (veja na imagem acima). O Fluminense teve duas: uma com Kauã Elias chutando por cima do travessão no início e outra com Ganso perdendo pênalti no fim, após defesaça de Rossi.
O Fluminense voltou para o segundo tempo com Arias, que só conseguia jogar um tempo após atuar na Data Fifa, e com isso aumentou a qualidade do time. Já o Flamengo voltou igual nas peças, mas muito diferente do primeiro tempo. Matheus Gonçalves cansou, Ortiz sumiu, Allan voltou a errar demais, e Alcaraz falhava em toda tomada de decisão. O Rubro-Negro primeiro perdeu o meio de campo, depois o jogo.
O Flamengo sucumbiu em 10 minutos. Aos quatro, um passe genial de Ganso desmontou a defesa e abriu caminho para o gol de Lima. Aos 14, a defesa preencheu mal demais a área e deixou Árias livre para fazer o segundo e matar o jogo. Ainda faltavam 36 minutos, contando os acréscimos, mas era muito difícil imaginar uma reação pelo que se via em campo.
Entre um gol e outro, Filipe Luís chamou Michael e Plata. Quando eles entraram já estava 2 a 0, e o técnico arriscou tirando um volante. Mas optou por sacar Ortiz, que estava melhor do que Allan. Demorou a tirar Matheus Gonçalves, já cansado, e manteve Alcaraz errando tudo até o fim do jogo.
O Flamengo só voltou a ter chance aos 32 minutos, em uma bola parada: Arrascaeta cobrou escanteio, Léo Pereira subiu mais que todo mundo, mas cabeceou mal. O Rubro-Negro terminou o jogo com 54% de posse e 20 finalizações contra 11 do Fluminense, mas em oportunidades reais ficou 4 a 4.
Chamou a atenção que nos dois gols o Fluminense explorou uma cratera que havia pela lateral esquerda do Flamengo. Onde estava Ayrton Lucas nesses lances?
No primeiro gol, o lateral centraliza para disputar uma bola, perde a posse e corre atrás do adversário para pressionar, abandonando de vez o seu setor.
Ganso se projeta no espaço vazio, o que força Léo Pereira a sair de sua posição para dar combate. No momento do toque genial de chaleira, Ayrton Lucas ainda estava no campo de ataque.
No segundo gol, o lateral-esquerdo guardava posição tendo Ganso aberto pelo seu lado. Mas ele decide dar o bote em Arias, deixando o camisa 10 tricolor livre.
Léo Pereira mais uma vez se desloca para cobrir o espaço. E quando Ganso dá a pré-assistência para Martinelli, Ayrton Lucas voltava pelo meio, mas ainda estava longe da área.
O jovem volante de 21 anos, que vinha aparecendo bem com Tite e furando a fila no meio de campo, não entrou nenhuma vez nesses três jogos do Filipe Luís.
O Flamengo se reapresenta na tarde desta sexta-feira, no Ninho do Urubu, com o foco 100% virado para a Copa do Brasil. Com a derrota no Fla-Flu, o time estaciona nos 41 pontos em quarto lugar e vê o São Paulo ameaçar o seu posto no G-4 com 40. O fim do sonho no Campeonato Brasileiro aumenta ainda mais a responsabilidade no torneio mata-mata como última chance de título e transforma o duelo do próximo domingo, às 16h (de Brasília) na Neo Química Arena, no "jogo do ano" para os rubro-negros. Por terem vencido na ida por 1 a 0, os comandados de Filipe Luís têm a vantagem do empate.
Por Ge