SANTA CATARINA

Após 260 anos de extinção de bugios em Florianópolis, cinco famílias da espécie são soltas na Ilha de SC

Primatas, que estavam em cativeiro, foram reintroduzidos no Norte e no Sul da Ilha.
05 de julho de 2024
Compartilhe

Cinco famílias de bugios-ruivos agora povoam a Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, após 261 anos de extinção local da espécie. Os primatas estavam em cativeiro e foram soltos depois de vários estudos e de serem vacinados contra a febre amarela.

O processo de soltura começou em janeiro e terminou na semana passada. Ao todo, 16 indivíduos, incluindo dois filhotes, foram libertados em unidades de conservação, informa Vanessa Kanaan, presidente do Instituto Fauna, responsável pelo trabalho.

O nome científico da espécie é Alouatta guariba clamitans. Eles se alimentam principalmente de folhas, mas também comem frutos.

Os bugios que foram soltos estavam em cativeiro no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Santa Catarina (Cetas), em Florianópolis.

 

Por que os bugios desapareceram da Ilha de SC?

O último registro de bugios na Ilha de Santa Catarina foi em 1763. A presidente conta que existem diversas teorias sobre o motivo do animal ter desaparecido do local.

"O bugio é uma espécie extremamente sensível a doenças, como por exemplo a febre amarela, mas ele também é sensível às ações humanas, como desmatamento. Hoje em dia, existem muitos problemas com eletrocussão, de animais que acabam se prendendo na fiação, levam choques e morrem. Eles podem morrer atropelados ou atacados por cães e, principalmente, também são vítimas da caça", diz.

"Acredita-se que, há mais de 260 anos, eles sofreram algumas dessas pressões, que eram comuns na época, como a caça, a perda de habitat por causa do desmatamento e talvez alguma doença. Mas a gente não tem certeza sobre qual motivo específico levou à extinção”, completa.

Importância da reintrodução dos bugios na Ilha de SC

 

Após 260 anos de extinção, a reintrodução da espécie na Ilha de Santa Catarina tem muitas vantagens, conforme a presidente. São elas:

A primeira é o bem-estar dos animais que estavam no Cetas. "Por mais que a gente desse todo o carinho e todos os cuidados necessários, não é um local adequado para um animal ser mantido a longo prazo e era realmente muito difícil conseguir destinação para esses animais", explica;

A reintrodução do bugio também permite que este primata cumpra o seu papel ecológico no ambiente. A presidente explica que, como ele também come frutos, ajuda a espalhar sementes. Dessa forma, auxilia na restauração de florestas;

Por fim, a volta do bugio-ruivo contribui para a conservação da espécie.

Antes que os bugios em cativeiro fossem reintroduzidos à natureza, foram feitos vários estudos. Nem todos os animais foram aprovados pelos critérios de soltura.

Confira as etapas:

???Antes mesmo de qualquer pesquisa com os bugios, foi feito um estudo sobre o ambiente. "Foi feito um levantamento de quais seriam as melhores áreas do ponto de vista climático e de vegetação para que houvesse a reintrodução”, explica a presidente. Esse estudo foi feito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

??Foram escolhidos dois locais: o Parque Estadual do Rio Vermelho, no Norte da Ilha, onde foram soltas três famílias, e o Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri, no Sul da Ilha, onde as outras duas foram postas em liberdade.

?Nos candidatos, foram testadas habilidades comportamentais. "Tiveram que mostrar animais que conseguiam viver na família, que conseguiam reconhecer os seus alimentos naturais, que conseguiam se locomover", explica Kanaan.

?Todos os bugios soltos na Ilha de Santa Catarina são animais oriundos do estado catarinense. "Geneticamente, a gente só poderia soltar animais oriundos de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul ou da Argentina, que é a unidade genética do bugio-ruivo que ocorre aqui", completa a presidente.

?Passando essas etapas, os bugios precisaram viver durante um mês em um viveiro de aclimatação dos parques onde seriam soltos. "Para a gente ver se eles realmente conseguem se adaptar tanto às características do local onde eles vão viver, mas, também, à vegetação que está ali disponível", esclarece a presidente.

?Para a soltura, foi aberta a porta desse viveiro, possibilitando aos bugios viver em meio à natureza

Monitoramento

 

Agora que os bugios foram soltos, é feito um trabalho de monitoramento desses animais. A presidente relata que isso é feito através de cinco métodos:

?Na busca ativa, a equipe do instituto vai até as duas unidades de conservação e procura pelos animais ou evidências deles;

? Com o drone termal, a equipe usa o equipamento para procurar pelos bugios nas copas das árvores;

? As armadilhas fotográficas são colocadas em locais pelos quais a equipe acredita que bugios vão passar. A armadilha é ativada quando há movimento perto do equipamento;

??Gravadores são usados para captar sons feitos pelos animais, uma característica da espécie. "A utilização de gravadores vai nos permitir também saber se eles estão vocalizando, que áreas que eles estão utilizando, qual é o bugio que está vocalizando, para a gente começar a entender a dinâmica dessas famílias", explica a presidente;

?‍??‍O principal método, no entanto, é a participação da comunidade. "As pessoas que fazem trilhas nos locais de soltura, passeiam de barco na Lagoa Conceição ou na Lagoa do Peri podem e já viram bugios passeando por aí. Eles relatam para a gente e a gente vai atrás dessa informação para ver se os bugios estão bem".

E o futuro?

 

O instituto quer continuar o trabalho de soltura de mais bugios.

Para isso, porém, são precisos mais estudos. A previsão é que uma nova soltura possa ocorrer daqui a dois ou três anos.

Por G1 SC

 

Leia também