ESPORTES

Análise: no peito e na bola, Flamengo tem atuação de cinema em sua maior goleada sobre o Vasco

Time paga dívida com a torcida de inúmeras oportunidades que teve de fazer história no clássico de maior rivalidade do futebol carioca
03 de junho de 2024
Compartilhe

Chamada de "torcida de teatro" pelo rival neste domingo, a do Flamengo saiu do Maracanã em festa com uma atuação de cinema na goleada por 6 a 1 sobre o Vasco. Um jogo que entra para história, consolida um novo time e reaproxima um ídolo que teve uma inabalável relação com os rubro-negros arranhada por um erro. Sorte dele é que sua predestinação mantém intacto o pacto com a eternidade.

Everton Cebolinha, Pedro, David Luiz, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol fizeram os gols. Os autores representam a conexão de uma geração histórica com uma nova equipe que ganha identidade. Tite encontrou a formação ideal, mas a Copa América obrigará o treinador a se readaptar.

Virada com show de Cebolinha

 

O Flamengo começou errando bastante e logo tomou um susto por mérito de Vegetti, que emendou um - belo e muito surpreendente - voleio. Os rubro-negros não se abalaram e partiram para encarar um Vasco que defendia com linha de cinco. Enquanto se recompunha do golpe, o time de Tite até viu os adversários chegarem duas vezes, mas depois dominou inteiramente seu adversário.

Arrascaeta, que não vinha bem nos últimos jogos, comandava o meio, enquanto Everton Cebolinha se preparava para virar o protagonista da etapa.

Dos pés do camisa 14, após um bate-rebate, a bola foi amortecida para Cebolinha empatar. Arrasca não participava de um gol havia 11 jogos e voltou a fazer o que mais sabe: dar assistência, a 84ª dele com a camisa do Flamengo.

Everton Cebolinha resolveu aparecer. Tentou um gol do meio-campo, e o goleiro Léo Jardim ironizou a ousadia com uma matada no peito. Setenta e nove segundos depois, o 11 do Flamengo respondeu com arte. Gingou diante de Lucas Piton e, por ironia do destino, cruzou na medida para Pedro, com o peito, empurrar a bola para o fundo da rede.

David Luiz fez um bonito gol de esquerda no fim da etapa. Adivinha quem deu o passe? Cebolinha, que bateu o escanteio com veneno.

 

Para completar o primeiro tempo dos sonhos para os rubro-negros, João Victor cometeu falta violenta em De la Cruz e - após intervenção do VAR - foi expulso.

 

 

Um amasso rubro-negro: 65% de posse de bola e um placar de 13 a 2 nas finalizações.
Show de Arrascaeta na etapa final

 

O primeiro lance do segundo tempo foi o prenúncio do show. Viña roubou bola, fez fila e tabelou com Arrascaeta e Pedro. Por pouco não entrou na área em condição de chute. Aos cinco minutos, Everton Cebolinha desarmou Puma, aplicou-lhe dois dribles desconcertantes, fingindo que ia para um lado e saiu para o outro. A torcida começou a gritar nesse momento: "Mais um, mais um".

Trinta segundos após Cebolinha bailar, mais um belo gol. Léo Jardim espanou, Fabrício Bruno rebateu de cabeça, Gerson tocou de primeira, e Pedro, também num toque só, deu lindo passe para Arrascaeta, que, no timing certo, resistiu ao puxão de Léo Pelé, sustentou e marcou um golaço.

 

Marcado na história com "os caras" de 2019

 

 

Se Pedro, Cebolinha e David Luiz, referências técnicas de um novo Flamengo que se constrói, foram os caras do primeiro tempo, coube aos heróis de 2019 cravarem os números que tornaram esse 2 de junho de 2024 eterno, histórico e inigualável.

 

Goleadas com quatro gols marcados o Flamengo já havia feito três vezes nas últimas décadas, um 4x0 em 2000, um 4x1 em 2019 e outro 4x1 no ano passado. Faltava pagar uma dívida com os rubro-negros. A torcida queria o troco daqueles chocolates sofridos diante do Vasco em 2000 e 2001, ambos com 5x1 e show de Romário.

O quinto foi cinematográfico. Arrascaeta mostrou por que aquela geração de 2019 ainda é útil ao Flamengo de hoje. Girou de forma fantástica diante de Galdames, conduziu, tirou Maicon e rolou para Bruno Henrique bater na bochecha da rede. 

Predestinado a fazer história

 

Mas a história tinha que guardar algo para o predestinado. Cebolinha foi sensacional no primeiro tempo, Arrascaeta deu show no segundo, e Pedro deu provas de que é o melhor atacante do Brasil com sobras. Faltava o dele. Você sabe quem é.

Entrou aos 33 minutos da etapa final. Foi vaiado, xingado e ouviu que o Flamengo não precisava dele. Críticas merecidas, ele pisou na bola e resolveu apanhar calado. Não participava muito do jogo, até a vocação para ser eterno bater em seu ombro e falar: "Vem cá fazer história".

 

Novamente aos 43 minutos do segundo tempo - ô número identificado com o vermelho e preto - aqueles mesmos em que Petkovic se consagrou contra o Vasco e nos quais o próprio Gabigol empatou a decisão da Libertadores de 2019, o destino reencontrou o agora camisa 99.

Arrascaeta, um dos craques do jogo tocou na frente, Luiz Araújo esticou no fundo de calcanhar, e Wesley surgiu para cruzar. Gabi ganhou as costas de Maicon e voltou a ser gol. Gabigol.

Gabigol fazia as pazes com as redes após quase quatro meses sem marcar - o último havia sido anotado em 10 de fevereiro. E escrevia mais uma vez seu nome na história do Flamengo. É dele o gol que garantiu ao clube sua maior goleada no Clássico dos Milhões. O maior placar do confronto na história do Campeonato Brasileiro.

Um espetáculo que é do novo Flamengo, de Pedro, David Luiz e Cebolinha. É também do vitorioso Flamengo de 2019 de Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. É histórico e de cinema, não de teatro. O líder do campeonato atropelou seu rival, com 67% de posse de bola e um número de finalizações 14 vezes maior (28 a 2).

Por GE

 

Leia também